quinta-feira, 18 de outubro de 2012

História das Artes em Goiás 002

Cinema


A primeira tentativa de produzir um filme goiano de ficção foi feita pela teatróloga Cici Pinheiro, nos anos 60. Com base em texto de Bernardo Guimarães ela pretendia levar para o cinema a história da Romaria de Muquém (tradicional festa de Niquelândia). O filme seria o Ermitão de Muquém (baseado em obra homônima de Bernardo Guimarães), que no entanto, não foi finalizado por falta de recursos. Apresentado ao meio artístico por Cici Pinheiro, João Bennio, na verdade, acabou sendo o pioneiro do cinema goiano. Produziu O Diabo Mora no Sangue, que teve como cenário as areias e as águas do Rio Araguaia, na Ilha do Bananal. Bennio produziu ainda Tempo de Violência (1968), filmado no Rio de Janeiro e Simeão, o Boêmio (1969), rodado em Pirenópolis, entre outros. Sua última produção foi o Azarento, Um Homem de Sorte (1973), rodado em Goiânia e Piracanjuba.
       
       Mas a primeira produção cinematográfica de ficção de Goiânia foi A Fraude, com direção de Jacerlan de Jesus, em 1968. Um marco do cinema goiano foi Cavalhadas de Pirenópolis (1978), documentário dirigido por José Petrillo, que obteve o prêmio Candango do Festival de Brasília, na categoria de curta (35 mm). Entre curtas e longas-metragens, rodados em Goiás, destacam-se as produções: O Dia Marcado (1970), de Iberê Cavalcanti; Caminho dos Gerais (1976), documentário de Carlos Del Pino, sobre a vida e obra de Bernardo Élis; O Leão Norte (1973), de Carlos Del Pino, com cenas de Goiânia e Pirenópolis, e Mulher que Comeu o Amante, rodado em Corumbá de Goiás, igualmente com direção de Carlos Del Pino, ainda incompleto (aguarda finalização). O primeiro longa-metragem totalmente goiano foi A Igrejinha da Serra, com direção de Alberto Rocco e Henrique Borges, feito em Rio Verde, em 1979. Pirenópolis tem se tornado uma espécie de palco de grandes produções cinematográficas.

              Na cidade cenográfica ali instalada foi rodada boa parte de O Tronco, de João Batista de Andrade. A República dos Anjos (uma referência à Santa Dica do cerrado), foi filmado em 1989/1990, com direção de Carlos Del Pino. A obra de Bernardo Élis inspirou, entre outros, os filmes André Louco (1988), de Rosa Berardo; Índia, a Filha do Sol (baseado em contos do escritor), de Fábio Barreto (1982), e Terra de Deus, de Iberê Cavalcanti (2000, baseada no conto A Enxada). O eixo Cidade de Goiás-Pirenópolis abrigou as filmagens de As Tranças de Maria, de Pedro Carlos Rovai, baseado no conto-poema homônimo de Cora Coralina (1995). André Luiz Oliveira dirigiu, em 1975, o seu A Lenda de Ubirajara, com base no romance Ubirajara, o Senhor da Lança, de José de Alencar.
               O cinema goiano ganhou fôlego no início dos anos 80, quando surgiram novos cineastas, buscando inspiração no Nouvelle Vague, no neo-realismo italiano e no cinema novo brasileiro. Essa geração começou a fazer filmes em super 8 e 16mm, todos produzidos no Estado. Daí surgiram nomes como Eudaldo Guimarães, Lourival Belém Júnior, Divino José, Pedro Augusto Brito, Ricardo Musse e Noemi Araújo, entre outros. Desse período, despontaram as produções Os Ventos de Lisarda, de Pedro Algusto Brito (1982); Nosso Cinema, Aspecto e sua Gente, Eudaldo Guimarães (1981); Quinta Essência, de Lourival Belém Júnior (1984) e Lúcidos ou Neoróticos, de Divino José (1981), entre outros.
               O cineasta Wolf Jesco von Puttkamer Filho (1919-1994) foi o precursor do cinema antropológico em Goiás. Durante oito anos produziu filmes e documentários sobre os índios do Xingu para a BBC de Londres. Foi professor da Universidade Católica de Goiás (no Instituto Goiano de Pré-História e Andropologia - IGPA) e deixou um enorme acervo de fotografias e filmes em película. As obras foram feitas a partir de 1948, quando Jesco foi pela primeira vez ao Xingu. Os filmes cobrem o período 1960/1970. Sete dessas produções abordam o cotidiano dos índios do Xingu. Outras três obras resultaram de viagens do fotógrafo ao Nordeste. Falam de jangada, ligas camponesas. Um dos mais importantes é o registro, inédito, do contato de Jesco com os índios Suruí (1969). O acervo pertence ao IGPA.
                Na década de 90, emergiram nomes como PX Silveira, Débora Torres e José Lino Curado. Uma das mais significativas obras filmadas em Goiânia foi Pedro Fundamental (1992), sobre a vida de Pedro Ludovico, um dos grandes marcos da história goiana. Tem a assinatura de PX Silveira. Outros personagens do contexto literário que também chegaram às telas foram Pai Norato (2000), de José Lino Curado, baseado no conto de Bernardo Élis, e o Wataú (2000), de Débora Torres, inspirado no conto homônimo de Miguel Jorge.
                Depois de produzir O Tronco, que foi exibido no interior do Estado (via projeto Agepel), João Batista de Andrade acabou de produzir, em Pirenópolis, Uma Vida em Segredo, com direção de Suzana Amaral, e adaptação de livro de Autran Dourado, com lançamento previsto para março. Com roteiro pronto, há o filme Rua 6 Sem Número, uma história goiana que tem como palco o Entorno de Brasília. Veias e Vinhos, baseado em livro homônimo de Miguel Jorge, está em fase de captação de recursos.
                A Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico (Agepel) juntamente com a Agência Ambiental decidiu movimentar a área de cinema em Goiás. Em 1999 lançou a primeira edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). O evento, que acontece na primeira semana de junho, na Cidade de Goiás, chega neste 2001, ao seu terceiro ano com notável expectativa. O festival tem reunido produtores de cinema voltado para o meio ambiente de diversos países. Entre os destaques do Fica estão Bubula, o Cara Vermelha, de Luiz Eduardo Jorge, e O Pescador de Cinema, documentário com direção de Ângelo Lima.
                 A Agepel mantém projetos que visam a popularização do cinema, como o Cinema Itinerante, que leva filmes educativos-culturais a escolas públicas do interior do Estado. Em parceria com os diretores João Batista de Andrade e Iberê Cavalcanti, a Agência Goiana de Cultura levou ao interior de Goiás os filmes O Tronco e Terra de Deus. A Agepel possui o Cine Cultura, o único cinema de arte do Estado. Além de duas sessões normais diárias, há sessões extras para escolas carentes de Goiânia.


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